Encontro “Diálogo em Rede” do MPTO é realizado em Paraíso do Tocantins para fortalecer rede de proteção à infância
O Ministério Público do Tocantins (MPTO) promoveu, nesta quarta-feira, 14, em Paraíso do Tocantins, mais um evento da série "Diálogos em Rede: a articulação interinstitucional e a garantia de direitos de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência".
A iniciativa do Centro de Apoio Operacional às Promotorias da Infância, Juventude e Educação (Caopije) do MPTO, que já passou por Colinas do Tocantins e Porto Nacional e seguirá ainda para Araguaína, Gurupi, Miracema, Arraias e Araguatins, reuniu, no auditório da câmara municipal, cerca de 100 participantes dos municípios de Paraíso do Tocantins, Divinópolis do Tocantins, Lagoa da Confusão, Chapada da Natividade, Rosalândia, Pium, Pugmil e Monte Santo.
O encontro contou com a presença de prefeitos, secretários municipais, conselheiros tutelares e profissionais das áreas de assistência social, educação, saúde e segurança. A ação conjunta do MPTO com a Secretaria da Segurança Pública do Tocantins (SSP-TO), por meio da polícia civil, e municípios, integra a campanha estadual alusiva ao 18 de maio.
Ouvir para proteger e evitar revitimização
O coordenador do Caopije, promotor de Justiça Sidney Fiori Júnior, palestrou no evento, enfatizando a importância da sensibilização e capacitação contínua da rede. Divulgando a campanha “Ouça Acolha Denuncie” do MPTO, ele alertou: "Estou cansado de saber de casos concretos de uma criança que tentou falar que estava sendo abusada, e o responsável legal não ouviu", citando os trágicos exemplos de Henry Borel e do caso Menino Bernardo.
Alerta estatístico
O promotor de Justiça apresentou dados alarmantes: um estupro a cada seis minutos no Brasil, sendo 76% das vítimas vulneráveis. "Para o Código Penal, quem tem menos de 14 anos não tem capacidade de consentimento. Um namoro com menor de 14 anos é estupro de vulnerável, crime hediondo", explicou.
Proteção na escola
A escola foi destacada como local crucial para a revelação espontânea. "Na imensa maioria dos casos, a criança cria confiança para contar na escola", afirmou Fiori, orientando professores sobre o acolhimento em local reservado e a documentação do relato.
Ele diferenciou a “revelação espontânea” da “escuta especializada”, ressaltando que, se a primeira for bem documentada, a segunda pode ser desnecessária, evitando revitimização – o que, se ocorrido, configuraria crime de abuso de autoridade.
Fluxo e articulação da rede
Um dos pilares do encontro foi a discussão sobre o fluxo interno de comunicação. "O professor que coletou a informação precisa comunicar a saúde em até 72 horas para profilaxia. A informação tem que fluir de forma sigilosa para que a criança não precise repetir o ocorrido", orientou Sidney Fiori.
Ele sugeriu que os secretários de Educação assumam a gestão desse fluxo, centralizando a comunicação oficial com outras secretarias e autoridades.
Evitando a revitimização
O cuidado para que a criança ou adolescente não sejam submetidos a sucessivas oitivas foi um tema central. "O primeiro profissional que atender registra e compartilha com os demais que precisam atender a criança. A informação tem que ser compartilhada de forma sigilosa", reforçou o promotor.
A escuta especializada, realizada por profissionais capacitados da saúde, educação ou assistência social, foi apresentada como um recurso para casos em que a revelação espontânea não ocorreu ou precisa de aprofundamento, sempre com o objetivo de proteger; e não com o de investigar criminalmente.
Leis fortalecidas
O coordenador do Caopije ressaltou que as leis foram recentemente atualizadas, oferecendo mecanismos mais robustos. "A lógica não é tirar a criança abusada de sua casa. O agressor que tem que sair de casa ou manter uma distância de segurança", frisou, citando a Lei Henry Borel.
Ele explicou que, embora o afastamento seja regra do juiz, a lei permite que outras autoridades, como delegados e até policiais em locais remotos, tomem essa medida de urgência. A Lei da Escuta Especializada, o Decreto 9.603/18, a Lei Menino Bernardo e a Lei da Parentalidade Positiva também foram abordadas como ferramentas de proteção.
Compromisso local
A secretária de Ação Social de Paraíso do Tocantins, Taís Helena, reafirmou o engajamento do município. "Quando uma criança é protegida, toda a sociedade se fortalece. Proteger é um ato de amor, denunciar é um ato de coragem", disse, ao lançar a campanha do 18 de maio na cidade.
18 de maio
O encontro em Paraíso do Tocantins reforça o chamado à ação para o 18 de maio, Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, data que simboliza a luta pela proteção integral dos direitos infantojuvenis.
Notícias Relacionadas
Seminário “Acolher Tocantins” fortalece o serviço de acolhimento familiar e reúne representantes municipais em Porto Nacional
Promotoria de Justiça de Ananás discute fortalecimento da rede de proteção com Conselhos Tutelares da Comarca
Mais de 140 crianças de Araguatins e região são atendidas pelo MPTO com emissão de documentos
Lançada no Tocantins, Escola de Conselhos terá promotor de Justiça em comitê gestor para fortalecer rede de proteção
Ministério Público leva cidadania e defesa dos direitos da criança para a próxima edição do TCE de Olho no Futuro em Gurupi
Projeto que tem parceria do MPTO chega à 3ª edição em Dianópolis, ampliando ações pela Primeira Infância