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Projeto do MPTO que atua na reeducação de acusados de violência doméstica já recebeu mais de 50 homens

Atualizado em 03/10/2022 17:11

“A gente vem de uma cultura racista. Além de racista, machista. Eu fui criado assim. Presenciei meu pai agredindo minha mãe. Ele chegava alcoolizado e batia nela, sem motivos, por situações banais. Às vezes, uma palavra que ela dizia gerava uma agressão. Convivi com isso dentro de casa por bastante tempo. E quando você vive com essa realidade, acaba assimilando como se fosse normal. E não é”.


O relato é de um homem que agrediu a esposa e participou do projeto “Desconstruindo o Mito de Amélia”, uma iniciativa do Ministério Público do Tocantins (MPTO) que tem objetivo de reabilitar acusados de violência doméstica.


De acordo com o entrevistado  – que terá sua identidade preservada  – o projeto o ajudou “a enxergar” a companheira “da forma que ela deve ser realmente vista”, ou seja, livre de quaisquer tipos de agressão.


“Tenho convicção de que o indivíduo que participa desse projeto muda completamente seu comportamento. Aqui você passa por uma ‘ressocialização’. É uma transformação da percepção de vida. Tudo passa a ser diferente em relação à companheira. Estou muito feliz de ter participado e que isso tenha acontecido na minha vida”, relatou.


Assim como ele, o “Desconstruindo o Mito de Amélia” vem conscientizando, há mais de dois anos, vários outros homens. O projeto é uma ação desenvolvida pelo Núcleo Maria da Penha, coordenado pela promotora de Justiça Isabelle Rocha Valença Figueiredo. O projeto foi viabilizado por meio de um acordo de cooperação técnica celebrado com o Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO) em março de 2019.


Desde que foi concebido, em 2020, o projeto já atendeu 53 homens, tendo sido interrompido no ano de 2021, em virtude da pandemia. 


Conforme a promotora de Justiça Isabelle Figueiredo, o índice de reincidência é de menos de 5%. “Além das medidas de proteção às mulheres vítimas de violência, o sistema de Justiça precisa, e deve, sempre ter um olhar diferenciado para trabalhar a prevenção da reincidência deste tipo de crime. É uma demanda necessária, urgente e extremamente importante. Quando há conscientização e o trabalho deste tipo de projeto é bem feito, evitamos que o caso de violência se repita”, afirmou a promotora de Justiça.


Os homens atendidos são encaminhados ao Ministério Público, por meio do Tribunal de Justiça. Na instituição, eles passam por uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, assistentes sociais e pedagogos, e como recompensa, recebem benefícios judiciais.



Legislação


Mecanismos de prevenção da violência doméstica e a reeducação dos agressores estão previstos no art. 35, V, e art. 45 da Lei n. 11.340/2006, que ficou conhecida como Lei Maria da Penha.


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