Juiz promove projeto para conscientização e reeducação de acusados de violência doméstica
Para além da punição nos casos de violência doméstica, profissionais de diferentes áreas tem se mobilizado em uma rede de atendimento psicológico a homens acusados por este de crime. No projeto Esperança – sócio educação, são abordados assuntos voltados aos direitos humanos, saúde da mulher e sobre a cultura do machismo, origem do problema. A proposta é da psicóloga Eliane Montanha Rojas e foi abraçada pelo Juiz da Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, que já defendia o tratamento psiquiátrico para evitar a reincidência dos casos.
Ela afirma que ideia surgiu do contato com os agressores, majoritariamente reincidentes nos crimes de violência contra a mulher. “Trabalhando com eles percebemos que na maioria dos casos não há sequer percepção de culpa, muitos não entendem o porquê de estarem ali. Acham que empurrar ou agredir não é nada demais. Por isso é preciso trabalhar essa questão mais profundamente, para além da puniação”, explica.
Para isso o projeto contará com três etapas distintas. Na primeira delas, os acusados são apresentados a proposta e são levados a entender os motivos pelos quais estão ali. Nos encontros seguintes são abordados temas pertinentes a leitura de cada relacionamento e, por último uma sequencia de trabalhos esclarece questões acerca de direitos humanos, da saúde da mulher e de questões como o machismo. Os procedimentos serão realizados na Faculdade de Cuiabá (Fauc).
O juiz, um dos responsáveis pela classificação do feminicídio como crime hediondo no país destaca a repetição no padrão de comportamento dos agressores, normalmente oriundos de lares violentos. Ele explica a manutenção de estruturas neurolinguistas que reforçam a violência doméstica estão diretamente ligadas a fores históricos, uma vez que nosso subconsciente é responsável por grande parte de nossas atitudes.
Ou seja, o desenvolvimento de crianças em lares violentos e a naturalização do papel da mulher como submissa ao homem, acarreta em comportamentos que resultam nestas ocorrências. As terapias e atendimento psicológico surgem neste contexto para desconstruir uma visão perpetuada ao longo dos séculos, um padrão de agressividade que se repete em inúmeras famílias.
“O objetivo é apontar como essas percepções construções coletivas prejudicam individualmente os sujeitos, tirando-os desse ciclo deprimente. O filho que vê o pai batendo na mãe cresce achando que é normal bater em mulher e a filha que cresce vendo a mãe apanhar, cresce achando que essa violência é normal”, diz.
Apontada como principal causa das agressões, a cultura machista, vivenciada e replicada pela sociedade, coloca o Brasil como o quinto país no mundo com maior volume de crimes contra mulheres. Infração que, ao contrário do que se pode pensar, atinge a todas as classes sociais. “Instrução e condições financeiras não são determinantes nestes casos, que são cometidos por conta de uma conduta machista, que transmite ao homem a ideia de que a companheira é sua posse”, afirma o juiz.
Além da Fauc, o projeto que também conta com o apoio da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) e com a parceria com profissionais da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O trabalho, desenvolvido em conjunto por psicólogos, enfermeiros e antropólogos, acontece todos os sábados na instituição e chega amanha (29), ao seu quinto encontro.
Em paralelo a conscientização promovida junto aos homens, Haddad também atua em outra frente voltada especialmente às mulheres vítimas das agressões. Ambos os projetos são pioneiros no Estado. “O trabalho com as mulheres é voltado ao entendimento dessa situação, da qual elas são vítimas. Então ali elas tomam conhecimento de que nada justifica a violência e que a culpa não é delas. Também tratamos questões de gênero e sobre a cultura do machismo.”
Fonte: http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=433859¬icia=juiz-promove-projeto-para-conscientizacao-e-reeducacao-de-acusados-de-violencia-domestica