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08/03/2017

Quem são os criminosos que ameaçam a filha da Maria do Rosário

Da Redação


Haters se organizam em chans, fóruns anônimos na internet, para planejar ações contra mulheres, homossexuais e negros.


Nesta semana a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) denunciou que sua filha estava sendo alvo de criminosos na internet. Foram divulgadas fotos manipuladas da garota, difamando-a, como se ela fosse drogada e anoréxica, com nudes. As imagens foram publicadas por meio do aplicativo imgur.com, mas já foram retiradas. Um site hospedado na Austrália chamado Faca na Caveira, que se caracteriza pela publicação de textos em português de extrema direita e com ofensas a mulheres e gays, também postou.


Um youtuber, do canal ResetFailVlog, identificado como Allan dos Santos, gravou um vídeo onde celebra a suposta divulgação, com mensagens de ódio, ele responsabiliza a deputada pela ação: “Sua mãe defende estuprador (…) esta mulher é uma vagabunda, criminosa, por causa dela teve todo aquele problema com o Jair Bolsonaro”. Na internet, especulou-se que Allan dos Santos seria o responsável pela divulgação das montagens.


Este tipo de divulgação manipulada gera efeitos gravemente nocivos de dimensão imensurável às vítimas. É revoltante que minha filha seja atacada pelas minhas posições e por minha atuação em defesa da dignidade humana”, comentou Maria do Rosário, em nota.


A filha da deputada foi alvo de uma ação chamada de doxxing, que são organizadas por meio de chans, fóruns anônimos na internet, e visam desmoralizar alguém. Esses espaços têm abrigado um grupo especializado em disseminar ódio a mulheres, homossexuais e negros.


A blogueira feminista Lola Aronovich é alvo desse grupo há cerca de seis anos, tendo sofrido diversas ameaças de morte não só a ela mesma. Sua mãe de 81 anos e o marido também são vítimas dos ataques. Pessoas que se comunicaram com ela nas redes sociais tiveram fotomontagens suas divulgadas. Uma delas teve suas fotos e dados inseridos em sites de prostituição. Outro professor recebeu ameaças de estupro contra a sua filha menor de idade.


Em janeiro deste ano, a reportagem da Fórum publicou uma matéria onde denunciava as ameaças sofridas por Lola. Na última delas, os haters haviam enviado e-mails para o reitor da Universidade Federal do Ceará, onde a blogueira é docente, avisando que fariam um ataque com bombas, caso ela não fosse demitida. Esta última ameaça foi entendida pela Polícia Federal como caso de terrorismo e Lola chegou a ser ouvida por delegados.


Após a publicação da matéria, a Redação da Fórum passou a receber e-mails e a jornalista recebeu uma mensagem, onde dizia “boa sorte”, com seus supostos dados, profissão descrita como “vadia feminazi” e fotos suas publicadas também no imgur.com, o mesmo usado para disseminar as imagens da filha da deputada Maria do Rosário.


“Eles odeiam mulheres e passam o dia escolhendo alvos. Feministas são os alvos preferenciais. E sempre me atacaram, ainda mais por eu desmoralizá-los”, disse à época à reportagem da Fórum a blogueira Lola Aronovich. “São misóginos e de extrema direita. Nunca vi um mascu [termo usado para definir os misóginos, abreviação de “masculinista”] de esquerda, em geral são eleitores do Bolsonaro.”


Chans e anonimato

Fórum obteve imagens de conversas no dogolochan.org, que mostram internautas, que se escondem no anonimato, organizando a ação contra a filha da deputada Maria do Rosário. Nesse espaço, também são armados os ataques a Lola.


Nesta quarta-feira (22), um anônimo fala sobre a ação e defende que seja divulgada por Emerson Eduardo Rodrigues. Ele foi preso, em 2012, junto com Marcelo Valle Silveira Mello, na Operação Intolerância da PF. Ambos mantinham um site que pregava o ódio a negros, nordestinos, judeus, gays e mulheres. Foram liberados em 2013. Diversas denúncias recebidas pela Fórum apontam que eles continuariam disseminando ações de ódio pela internet. E-mails recebidos pela Redação são assinados em nome de Emerson Eduardo Rodrigues.


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Outro anônimo defende que a ação fosse colocada na “conta” de Emerson.

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Dizem ainda que a deputada iria “dar escândalo”, mas que “a polícia não vai fazer nada, nunca”.

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A Fórum entrou em contato com a Polícia Federal que afirmou não ser sua responsabilidade investigar crimes de ameaças. “Essa situação trata-se de crime comum contra pessoa física, portanto não é atribuição da Polícia Federal. Recomendamos que busque informações junto à Polícia Civil.”


Sobre o caso da filha da deputada Maria do Rosário informou que: “A Polícia Federal confirma o recebimento da representação sobre o caso, que será investigado. Não é possível tecer maiores comentários a respeito em virtude do sigilo da investigação”.


Infelizmente é capaz que haja mais vítimas, principalmente mulheres feministas, gays e negros. Como escreveu um internauta em outro chan visitado pela reportagem: “Dogolochan é o futuro, é o único que faz atentados contra o feminismo”.